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São Paulo - SP

O medo está guardado.

Enclausurado. Dentro de uma lata. Junto a milhares de pessoas. No mínimo 3hs por dia. Essa é uma rotinha vivida 5 dias por semana (para quem tem sorte) dentre os trabalhadores que moram nas periferias da cidade de São Paulo e a atravessam para se manterem vivos. Uma realidade que se manteve persistente e inalterável durante uma pandemia da Covid-19.  

Olhares exaustos, semblantes preocupados e ao mesmo tempo inexpressivos, indiferença a uma crise sanitária. Vidas reduzidas a economia e a sobrevivência. “O medo está guardado” é o que eu vivi e presenciei diariamente durante o período de 1 ano (2020/2021), sendo também um trabalhador residente em periferia, meu cotidiano dentro dos vagões lotados tornou-se mais árduo na pandemia. Os registros, feitos com celular, gritam para a sociedade uma realidade que pouco importou nesse período. 

Mas e o medo? Em meio a uma crise sanitária de um vírus com uma transmissão tão direta, com efeitos devastadores na saúde humana e na condição social, do qual para evitarmos contágio tivemos que nos afastar até de nossas próprias famílias, será que não existe medo em estar dentro de um transporte superlotado?  O medo é implícito, mas é colocado de lado diante da condição de sobrevivência, é um tiro no escuro sair para trabalhar e acordar bem no outro dia para ir novamente e, assim, dia após dia. Para nós, trabalhadores periféricos, não existe quarentena, não existe isolamento social, não existe saída. A única coisa a se fazer é, guardar o medo em um lugar de difícil acesso e “matar o leão de cada dia”. 

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